Sentou-se na varanda observando a chuva que caia incessantemente. Ela não era bonita, puro agouro. Estava lá com um cinzeiro abarrotado de tocos de cigarros, alguns maços em cima da mesinha e um litro de uísque 12 anos, que vinha bebendo do gargalho - não era necessário um copo. Sua boca era amarga, não pela bebida, muito menos pela nicotina, era a amargura que vinha de dentro. Estava sentado há horas, não se lembrava se havia acordado ali, ou se apenas havia sentado ao amanhecer. Tudo lhe era incerto. Suspirava enraivecido o nome de Úrsula.
Ela havia deixado, como de costume, a sua cama na madrugada. Marco, havia se cansado disso. Sentia-se usado, declamava-lhe poemas, mostrava-lhe os textos que dedicara e fizera sobre os dois. Ela, por sua vez, deliciava-se com o seu jeito doce de ser. Talvez, o amasse, mas não sabia até onde, quando. Não sabia se gostava apenas de suas palavras, ou se realmente o amava. Ele não era como Júlio, o comerciário com quem se encontrava às escondidas todas as tardes dentro do estoque de calçados, ele sim sabia fazer uma mulher feliz. Pensava ela. Não conseguia imaginar a ideia de viver com Marco, ele lhe propusera casamento, ela não queria compromisso. Queria ouvir Camões em seu ouvido, enquanto se amavam, mas queria ouvir palavrões enquanto se perdiam na seção de sandálias femininas com Julio. Sentia-se completa com os dois. Embora ambos não soubessem a existência do outro.
Úrsula amava os músculos de Júlio, ele ficava bem sem camisa, não era inteligente. Certo, possuía lá a sua serventia, mas não era tão dotado quanto Marco. Ele tentava ser romântico, sendo um fiasco diversas vezes, e ela não gostava dessas investidas. Pensava: - Tenho, Marco, para me amar com palavras. E assim, Marco fazia – amava-lhe com palavras, com docilidade, toques amenos e cuidados, enquanto Júlio lhe desejava e possuía como um cachorro enraivecido. E ela gostava de ambos.
Marco que estava sentado em sua varanda, embriagando-se viu Helena, correndo da chuva. Estava ensopada e tentava-se abrigar debaixo de uma mangueira. Levantou-se então, e com um guarda-chuva trouxe-a até sua varanda e lhe ofereceu uma toalha para secar-se, os olhos azuis de Helena transbordavam, não por causa da chuva, mas por ter terminado com seu namorado que a esbofeteou, ela chorava rios. E ele lhe enxugou as lágrimas, lendo um de seus poemas. Ali, Helena e Marco apaixonaram-se, em meio a lágrimas e um doce soneto que Marco declamou. Úrsula – Pensou ele, tinha vaga memória deste nome.
A loja que Júlio trabalhava estava em liquidação, a movimentação era tremenda e a gerente da filial de Campos Belos visitou a loja. Ela era morena e tinha traços indígenas, uma beleza descomunal. A sua voz era imponente, mas doce. Ela derrubou, sem querer, as caixas que Júlio arrumava no estoque. E ao ajudá-lo a recolher, seus olhos cruzaram-se e penetraram-se por alguns longos minutos. Júlio, que era burro na visão de Úrsula, lembrou-se um livro escrito por José de Alencar e disse a moça: a virgem dos lábios de mel e de cabelos mais negros que a asa da graúna. Que coincidentemente, chamava-se Iracema. E eles se apaixonaram.
Úrsula procurou Marco, mas ele não atendia. Os seus telefonemas não eram atendidos, ele trocara a fechadura da porta, e suas janelas sempre estavam fechadas. Marco enviou-lhe um poema de Caio F. que lhe dizia: "Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, ERA SEU. " E a ênfase no final da frase, mostrou-lhe que tudo havia acabado. Úrsula chorou e desejou entregar-se a Júlio a fim de esquecer.
Então, Úrsula procurou Júlio, a loja continuava inflamada por causa dos descontos absurdos que a loja resolvera praticar. Vira algumas vendedoras, outros vendedores e encontrou Maria, amiga de Júlio que sempre lhes vigiava a porta na hora do almoço, nos seus encontros amorosos no estoque. Maria lhe dissera que Júlio havia sido transferido para a filial de Campos Belos e que lhe indicou um livro para que lesse: Iracema, de José de Alencar. E Úrsula achando que Júlio nem sabia ler.
Úrsula não sabia o que era choro há tempos, experimentara de tantos outros sentimentos, amor, paixão, felicidade, prazer, mas tristeza lhe era novo. Ela chorava enquanto andava desolada pelas ruas. E ao contrário de Júlio e Marco não encontrou ninguém que lhe enxugasse as lágrimas. Terminou sozinha.
Ela havia deixado, como de costume, a sua cama na madrugada. Marco, havia se cansado disso. Sentia-se usado, declamava-lhe poemas, mostrava-lhe os textos que dedicara e fizera sobre os dois. Ela, por sua vez, deliciava-se com o seu jeito doce de ser. Talvez, o amasse, mas não sabia até onde, quando. Não sabia se gostava apenas de suas palavras, ou se realmente o amava. Ele não era como Júlio, o comerciário com quem se encontrava às escondidas todas as tardes dentro do estoque de calçados, ele sim sabia fazer uma mulher feliz. Pensava ela. Não conseguia imaginar a ideia de viver com Marco, ele lhe propusera casamento, ela não queria compromisso. Queria ouvir Camões em seu ouvido, enquanto se amavam, mas queria ouvir palavrões enquanto se perdiam na seção de sandálias femininas com Julio. Sentia-se completa com os dois. Embora ambos não soubessem a existência do outro.
Úrsula amava os músculos de Júlio, ele ficava bem sem camisa, não era inteligente. Certo, possuía lá a sua serventia, mas não era tão dotado quanto Marco. Ele tentava ser romântico, sendo um fiasco diversas vezes, e ela não gostava dessas investidas. Pensava: - Tenho, Marco, para me amar com palavras. E assim, Marco fazia – amava-lhe com palavras, com docilidade, toques amenos e cuidados, enquanto Júlio lhe desejava e possuía como um cachorro enraivecido. E ela gostava de ambos.
Marco que estava sentado em sua varanda, embriagando-se viu Helena, correndo da chuva. Estava ensopada e tentava-se abrigar debaixo de uma mangueira. Levantou-se então, e com um guarda-chuva trouxe-a até sua varanda e lhe ofereceu uma toalha para secar-se, os olhos azuis de Helena transbordavam, não por causa da chuva, mas por ter terminado com seu namorado que a esbofeteou, ela chorava rios. E ele lhe enxugou as lágrimas, lendo um de seus poemas. Ali, Helena e Marco apaixonaram-se, em meio a lágrimas e um doce soneto que Marco declamou. Úrsula – Pensou ele, tinha vaga memória deste nome.
A loja que Júlio trabalhava estava em liquidação, a movimentação era tremenda e a gerente da filial de Campos Belos visitou a loja. Ela era morena e tinha traços indígenas, uma beleza descomunal. A sua voz era imponente, mas doce. Ela derrubou, sem querer, as caixas que Júlio arrumava no estoque. E ao ajudá-lo a recolher, seus olhos cruzaram-se e penetraram-se por alguns longos minutos. Júlio, que era burro na visão de Úrsula, lembrou-se um livro escrito por José de Alencar e disse a moça: a virgem dos lábios de mel e de cabelos mais negros que a asa da graúna. Que coincidentemente, chamava-se Iracema. E eles se apaixonaram.
Úrsula procurou Marco, mas ele não atendia. Os seus telefonemas não eram atendidos, ele trocara a fechadura da porta, e suas janelas sempre estavam fechadas. Marco enviou-lhe um poema de Caio F. que lhe dizia: "Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, ERA SEU. " E a ênfase no final da frase, mostrou-lhe que tudo havia acabado. Úrsula chorou e desejou entregar-se a Júlio a fim de esquecer.
Então, Úrsula procurou Júlio, a loja continuava inflamada por causa dos descontos absurdos que a loja resolvera praticar. Vira algumas vendedoras, outros vendedores e encontrou Maria, amiga de Júlio que sempre lhes vigiava a porta na hora do almoço, nos seus encontros amorosos no estoque. Maria lhe dissera que Júlio havia sido transferido para a filial de Campos Belos e que lhe indicou um livro para que lesse: Iracema, de José de Alencar. E Úrsula achando que Júlio nem sabia ler.
Úrsula não sabia o que era choro há tempos, experimentara de tantos outros sentimentos, amor, paixão, felicidade, prazer, mas tristeza lhe era novo. Ela chorava enquanto andava desolada pelas ruas. E ao contrário de Júlio e Marco não encontrou ninguém que lhe enxugasse as lágrimas. Terminou sozinha.
Todos somos um pouco Úrsulas. Isso quer dizer que todos ficaremos sozinhos?
ResponderExcluirQue não me leia a cidadã lá, mas que as mulheres que gostam de cachorro morram de raiva!
ResponderExcluirhehehe
No mais, bem feito para a Úrsula!
Tenho medo que meu futuro seja igual a da Úrsula, ser um velho e não ter ninguémpara compartilhar minha existência. E ficamos vivos pelas pessoas que nos absorve.
ResponderExcluirTodas temos um pouco de Dona Flor em nós...
ResponderExcluirAlgumas controlam... outras não.
rsrs
Depende do dia..
Pâmela,
ResponderExcluirEstou passando por aqui para lhe desjar uma excelente semana.
Beijão e fica com Deus.
E como não se comover ao ler Caio F.?
ResponderExcluirÀs vezes nós ficamos divididos entre os "Júlios" e "Marcos" da vida, quando na verdade o que precisamos mesmo é estarmos sozinhos. Tenho um pouco de Dona Flor em mim, mas por enquanto deixei ela adormecida em qualquer lugar dentro de mim.
ResponderExcluirtodas nós temos um quase de Dona Flor...
ResponderExcluirbeijos
Úrsula, que queria os dois, acabou sem nenhum. Às vezes, na vida, é preciso fazer escolhas, e geralmente elas são assim: difíceis e sempre nos privam de algo.
ResponderExcluirÉ a vida.
Maravilhoso! *-*
Seus contos são uma delícia de se ler, flor :D
Ah, eu vi o convite pra postagem coletiva. Com certeza vou participar! A que horas é pra postar amanhã?
Beijos grandes :*
Pois eh, quem muito quer nada tem.
ResponderExcluirTomar decisões, as vezes requer de nós perdas, porém são necessárias se não quisermos ficar lamentando o que se podia ter feito.
E, ela infelizmente ficou dividada entra a razão e a emoção.
O que não é muito dificil de se encontrar em cada um de nós.
Não sabia o que queria e acabou sozinha sem querer. Isso me preocupa um pouco, pois sou muito indecisa.
ResponderExcluirBeijo.
Acredito que a postagem coletiva tenha dado certo. Rendeu bons textos, alguns suspiros (ai, ai). Então, quero propor uma nova postagem coletiva. Para quarta-feira. E estou avisando com antecedência para que todos nós postemos juntos.
ResponderExcluirO tema é: Kiss me.
Baseada na música da banda Sixpence None the Richer. Sempre achei essa música linda e acho que poderíamos tirar um proveito enorme dela. Aguardo contato com a confirmação da postagem.
adm.pamelamarques@gmail.com
Se quiserem podem me add no Gtalk. Passo o dia inteiro online.
E avisem também que a postagem é livre, quem quiser pode entrar na brincadeira.
Beijo doce :*
O texto deve ter o título Beije-me começar ou terminar com a seguinte estrofe da música:
Beije-me sob o crepúsculo. Leve-me pra fora, no chão iluminado pela lua.
Levante sua mão aberta, faça a banda tocar e faça os vaga-lumes dançarem. A lua prateada está brilhando, então me beije."
Esse é o grande problema, ninguém nunca é completo, com todos aqueles itens de fábrica que normalmente idelaizamos. Úrsula precisava saber que não dá pra se dividir amor... cada um no seu tempo.
ResponderExcluir"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, ERA SEU. "
Acabou comigo, coisa mais linda!
Beijos
Me convide para ler It's a problem? :D
ResponderExcluirLogo volto ler teu conto! :*
eloisafaccio@gmail.com :)
ResponderExcluirA história ta muito legal, mas eu senti um buraco nela... porq Marco começou a história se embriagando? :D
ResponderExcluirseu blog é lindo princesa, beijos!
Coitada da Úrsula... tantos quis, que nada teve.
ResponderExcluirBeijo, Pâm!
Ps. fiz o texto para quarta xD
E te add no msn
E ela tinha dois pássaros em mãos e uma gaiola, ela tanto que quis o libido de um e o amor do outro, que acabou ela mesma prendendo o coração e vendo os pássaros revoarem!
ResponderExcluirCharlie B.
Ps. Escrevi o post 'kiss me', esperando quarta o/
Nossa dá medo de tentar imaginar o que realmente essa guria gostaria de amar: alguém ou a si mesma .
ResponderExcluira incerteza as vezes leva as pessoas a caminhos e escolhas erradas ,
sua boca era amarga pelo fato de se manter desesperada a seus próprios olhos ..
é amor e desamor, isso que ocorre !