Em parceria com a bonita da MF.
Entoava Cazuza na voz rouca da magnífica Cássia Eller em minha mente “eu quero a sorte de um amor tranquilo, com saber de fruta mordida...”. Botei o pensamento no repeat e cantei em silêncio esta mesma música quase a transformando num mantra. Minha testa gelava a medida em que ficava com ela apoiada no vidro da janela. Eu observava a quietude da rua, a noite alaranjada, os pontinhos de luz nos prédios como vaga-lumes que não piscam, a chuva que lavava o asfalto e esfriava gradativamente o mormaço da vida.
Eu desejava viver a música em sua integralidade. Sonhava em ter realmente um amor quase que sobrenatural, algo como Eduardo e Mônica ou até mesmo Romeu e Julieta, e a cada palavra cantada eu juro que rezava para que algum milagre acontecesse e a minha mente divagava em possíveis situações que me faria conhecer alguém. Confesso até que imaginei na clássica esbarrada derrubando livros e a fatídica troca de olhares e de tanto imaginar me doeu um bocado, porque eu via que sonhara demais e que histórias assim são muito hollywoodianas para uma vida normal.
Qual era o problema comigo, afinal? Ou melhor, qual era o problema do mundo? Que mal há em se querer um amor doce, um felizes para sempre bordadinho de clichês? Ando cansada dos quereres e chateada pelas recriminações silenciosas que recebo dos olhares de outrem, só por eu ser sonhadora e amar de mais. E eu amo. Eu amo aquele que não conheço, eu amo aquele que ainda não me descobriu e eu amo o amor que posso inventar para “nós dois”, esse nós que sequer existe.