Eu queria ter sonhos de criança, mas eu não queria ser a criança que fui. Não em alguns momentos. A minha infância me dói, arde e ela permanece tão viva e aberta, tal qual uma ferida a cicatrizar.
Tenho saudades das minhas bonecas. Saudade de esperar meu pai chegar em casa com cocadas e doces de abóbora. Sinto saudade de pentear-lhe os cabelos, de ouvir as histórias que o meu avô nos contava, a mim e meus primos, na calçada. Eu sinto saudade de brincar de pique-esconde com meus vizinhos, de atravessar a rua de mãos dadas com o Alan. E sinto, sinto, sinto. Que me falta tanta coisa e eu não sei. Que há um oco dentro de mim, que ao mesmo tempo que eu sinto, eu não consigo sentir. Tenho saudades de tantas coisas, que no final; resumindo - sinto saudade é de mim.
Onde é que eu deixei a mala com a minha felicidade? Em qual estação? Eu invento poesia, invento história desde sempre e as pessoas acham tão lindo, que menina talentosa. Quando na verdade não compreende que eu escrevo para me esvaziar da dor que eu sinto. Essa dor que eu sinto desde sempre e não é nova. E então quando eu digo que estou chovendo, que meus olhos estão "neblinados", as pessoas suspiram. Por quê? É dor. A dor é bonita? A culpa é minha, fico vestindo as minhas aflições com seda, mascarando a dimensão delas e todos pensam: é literatura. Porra. Por que eu estou aqui, assim e sem ideais? Eu vejo tantas portas, tantas saídas e me falta força nas pernas para caminhar. Falta-me coragem.
A verdade é que eu gostaria, realmente, escrever sobre amor é gostar de ler. A verdade é que a cada dia eu vou morrendo um pouco mais.
E talvez, talvez amanhã eu não esteja mais aqui.
[desculpem, mas eu realmente tirei os comentários desse post. obrigada]