Quinze anos.
Cabelos longos, negros e
cacheados. A timidez de quem não consegue expressar seus sentimentos sem
gaguejar. O rubor nas bochechas de quem se vê encurralada – sem ação – ao ter
que conversar com alguém. Ela. Dona de sonhos muitos, de pastas que iam de
cifras internacionais – sonhava em ser uma rock
star algum dia – a de colagens da sua boy band preferida. Ela. Menina toda.
Trazia em seu coração uma paixão platônica que jamais seria correspondida: apaixonou-se por Nickolas. Ou
simplesmente Nick. Ele: loiro, olhos
claros, um metro e oitenta e três de puro encantamento.
Apaixonou-se como quem cai em um
buraco: sem aviso prévio. Viu-se
vidrada nas notícias, nas capas de revistas, nos clipes da MTV. “As long as you love me”, pedia. Sem cerimônia
alguma. A moça de quinze amava alguém que jamais a conheceria. Sentia vontade
de chorar todas as vezes que o via, poderia beijar a televisão enquanto ele
dançava, fechava os olhos e se imaginava ao lado.
Nick jamais a conheceria. Ela, por sua vez, sabia o que ele gostava de
comer, o nome de seus pais, seus irmãos, onde havia estudado, os sonhos que
tivera quando criança. Sabia até o seu mapa astral, apesar de não acreditar
muito em astrologia à época. Ele era de
aquário. Não era o seu paraíso astral, mas ele possuía o signo de sua mãe e
sua irmã. Ela as amava. Poderia – em sua cabeça – amá-lo também. Independente
de.
Ele estadunidense. Ela brasileira. Ele deveria comer ovos e bacon no
café da manhã. Ela comia tapioca, cuscuz ou somente pão de sal. Ele era da
música. Ela sonhava em ser. Opostos não tão opostos. Possibilidade zero da vida
lhes apresentarem. 2001 estivera na terra de Vera Cruz. São Paulo. Rio de
Janeiro. Brasília, não. Ela não o viu.
Quinze anos depois.
Cabelos curtos, loiros e lisos. A timidez já não lhe cabe, porque ela
descobriu que nasceu para o mundo. Aprendeu a expressar nas palavras, na
escrita, os sentimentos que outrora só lhe cabiam no coração. As bochechas já
não se envermelhecem por qualquer coisa. Ela. Ainda é dona de seus sonhos.
Muitos. Tantos. Vários. Já não sonha em ser uma rock star, deseja ser uma
escritora renomada e conhecida pelo mundo. Não carrega mais consigo as colagens
deles, mas traz no coração a doce lembrança da moça apaixonada que foi.
Ele ainda é Nick. Dos Backstreet Boys.
Ela ainda é a Mel. Dos livros,
da poesia, da prosa, que escreve.