Falar de sentimentos que desatinam é inexorável. E cá estou eu tentando escrever algo que seja bonito para você, mas eu sinto que não vou conseguir. Você foi o amor mais sincero que já tive em toda a vida. O único irmão que Deus me concedeu e foi levado embora assim, tão cedo. Eu lembro que Renato Russo cantava: é tão estranho os bons morrem jovens. E eu concordo que você foi embora cedo demais e não pude demonstrar o quanto você era e ainda será importante para mim. Só que eu penso em tanta coisa que ainda poderia ser, tantas coisas que eu queria dividir contigo ainda. Sabe, eu queria dizer a você: vem passar as férias aqui ou dizer: prepara o meu quarto que estou indo te visitar. Só que eu jamais poderei falar isso novamente. Eu queria te ver lá no altar sendo um dos meus padrinhos, sabe? Só que isso será impossível.
Eu estou aqui escrevendo e sei que você não está gostando de ver essas lágrimas que escorrem pelo meu rosto. Sei que está triste porque esse soluço está me deixando inquieta e sei que, assim como eu, você sente saudade da gente. Eu não encontrei ninguém em toda vida que acreditasse tanto em mim, só você. Eu passei em frente a tua casa antiga, antes de você ir morar em Belo Horizonte e vi a calçada em que sentamos para você tentar me ensinar a tocar cavaquinho e me doeu tanto. Eu sai chorando e assim que subi no ônibus as pessoas me olhavam. Senti uma raiva descomunal por isso e pensei: "será que ninguém respeita a minha dor?". Eu não sei quando é que vai parar de doer, eu não sei quando é que vou aceitar que você foi embora. A única coisa que sei é que hoje é um dia triste para mim e todo dia 26 de feveiro será. Fevereiro, sem sombra de dúvida, poderia ser riscado do meu calendário. Eu não sentiria falta.