Talvez eu acenda mais um cigarro esta
noite e transborde o cinzeiro que você tanto detesta. Ou talvez eu apenas vire
o rosto para a parede e durma sossegado. As letras não rabiscam mais o
papel com a mesma facilidade e escrever me é, demasiado, doloroso. São
urgências inadiáveis estas que me levam a ti. No pensamento. No peito. É,
Teodora. Ando te adorando em todos os passados e versos indizíveis e tu não
olhas sequer para o telefone que te grita a noite inteira.
Talvez eu beba mais um copo de vodca. É,
eu ando bebendo aquela vodca barata nos copos americanos que peguei no boteco
do meu avô. Quer algo mais decadente? É a decadência que os teus versos me
impõe. É a ausência deles que me suprimem o ar e tudo aquilo que pode gerar
oxigênio ao meu redor. Diziam que poeta era pessoa triste. E eu ando me
vestindo plenamente esse ditado.
Ah, Teodora. Tu não vês que sou eu quem
te adora? É um adorar sem controle, desenfreado e sem porquê. É uma
manifestação involuntária que atravessa o meu interior feito lança rasgando-me
por inteiro. Ah, Teodora! Se eu conjugar o verbo adorar tu estarás
iniciando cada tempo, adornando com tua beleza todos os modos verbais.
Seja-me o verbo, querida.
Ou me dê a oportunidade de tê-la aqui
tão somente. Cale os meus versos tristonhos e sem vida. Tire-me dessa sina de
ser um poeta louco. Rasgue as minhas folhas. Queime os meus cadernos. Me tire
de mim. Roube essas letras que me cortam inteiro. Corte. Recorte.