A vida escorregou por debaixo da mesa e enroscou-se em seus tornozelos. E mesmo que eu queira me redimir dos meus pecados, não consigo confessá-los. Talvez eu fique aqui durante algumas horas mais ou até esvaziar essa garrafa de vodka. Eu já não tenho certeza de quase nada e pouca coisa me comove. Não levante a sobrancelha dessa forma em tom de reprovação. Sou apenas aquela garota do interior que você roubou a inocência. Eu não usava esse batom escarlate, minhas pálpebras jamais haviam sido pintadas dessa forma, meu rosto nunca esteve tão borrado como hoje. E o que você me diz? Nada.
Eu que não gostava de você e ainda assim permanecia. Percebi que pior que o amor é o sentimento de apego, aquele costume e a rotina diária. Eu que já não me importava em ter o seu carinho, hoje vejo que todas as portas estão trancadas e já não vejo saída. É engraçado como todos os caminhos são tortuosos e íngremes e meu salto agulha não consegue andar sobre eles sem tropeçar. O mais gozado de tudo isso é saber que a minha auto-suficiência se desintegrou, o que era de se esperar cedo ou tarde.
Não gosto dessa sua cara de piedade, dos seus sermões repetitivos e que me arrastam ao chão. O problema de tudo isso é baixar a guarda sempre, porque você nunca coube em meus excessos. O arrependimento vai queimando aqui dentro, cara. E não é a mistura de bebida que está me deixando amarga. São os sentimentos que se misturaram formando uma enorme bola de neve. Não sei o motivo de dizer todas essas besteiras aqui, nesse lugar sórdido, não sei a razão de ainda me importar com você. A única coisa que sei é que você e toda essa sua sobriedade me dá repulsa.
"Magda, uma personagem amarga e ressentida. Um novo 'estudo de caso'. Que caso."