Em frente ao espelho vejo uma mulher com suas marcas, é claro, mas também vejo alguém que conseguir seguir em frente. Que abandonou as suas vestes de luto e conseguiu, enfim, ver a vida colorida novamente. Confesso que não foi fácil me desprender de você. Muitas vezes me senti envolvida pelas tuas teias como um inseto que por descuido se deixou pegar. Senti que a qualquer momento poderia ser engolida pela loucura dos dias, pela dor latejante que o teu adeus me causou. Senti que não havia forças. Senti que não havia mais razões. Só senti.
E hoje me pego surpresa diante de tantas recordações encaixotadas, de lembranças que outrora me enchia de alegria e que hoje já não passam de um amontoado de tralhas e viveiro para ácaro. Me pego absorta diante do tudo que se fez nada. Do amor que morreu a míngua sem restar sequer um pingo de amor. Dos abraços urgentes que foram reduzidos a acenos com a cabeça quando cruzamos o caminho um do outro.
Amar parece pouco óbvio quando nos deparamos com o desamor que fica. Quando olhamos para as cinzas que restam dos nossos dias. Eu queria te dizer que o pouco que você me deu não valeu o muito que te ofereci. Que olhar para os destroços do que fomos e não sentir pesar me traz felicidade ao coração. Me faz compreender que precisamos cair em alguns poços para darmos valor aos filetes de sol que enxergamos acima de nossas cabeças. Que precisamos beber um pouco de água lamacenta para podermos reconhecer a graça que é tomar água limpa. Que tudo na vida existe uma razão e que nenhuma dor é eterna, embora pareça.
No mínimo dolorido. Intenso, é a palavra. Até porque um amor que vai, sempre fica de alguma maneira, mesmo que mude o sentimento. Caso contrário não teria rendido um texto assim.
ResponderExcluirEu gosto que ela seja tão bem resolvida no gesto de fechar essa porta. É necessário, só assim todo o resto se abrirá.
Beijo meu.