Eu descia as escadas vagarosamente carregando em minhas mãos uma pequena caixa de madeira clara, aquela que você me deu em meu último aniversário, lembro que havia algumas fitas lilases ao redor e alguns cartões do Garfield com poemas desconexos com a tua letra pavorosa. Eu ri da lembrança. No último degrau sentei-me sem forças, as pernas trêmulas e o coração fatigado. Sentia que meus nervos estavam à flor da pele e que a qualquer momento eu entraria em curto-circuito iniciando ali, com a madeira da caixa, um pequeno incêndio. Desagüei. Porque eu não queria jogar fora tudo aquilo, mas eu precisava – porque você me doía. E eu ouvia música clássica e ao invés de encontrar a paz que eu buscava com a melodia, sentia-me em um funeral e pensei que talvez estivesse morrendo ali. Sozinha.
E sabe, doçura, quando eu abri aquela caixa e vi todos os nossos pertences e tudo aquilo que conquistamos nos últimos tempos que nos pertencemos pensei que tudo havia sido em vão. Porque você quis assim. E então os meus olhos secaram tal qual o deserto do Saara, sem pretensão alguma de voltar a chover. Engoli seco o meu orgulho e levantei-me em direção a porta da cozinha. Assim que me aproximei da janela os avistei, vestiam-se de laranja e corriam de um lado a outro da avenida enquanto o caminhão andava lentamente esperando-os. Levantavam sacolas, sacos plásticos azuis e pretos e então corri até eles e ofereci-lhes o nosso pequeno tesouro. Um mundo que vivíamos outrora.
E uma moça simpática e bonita, mesmo debaixo daquele uniforme, disse-me que não levaria. E eu tentei convencê-la, mas ela mostrou-se relutante. E eu cedi. Dissera-me que um dia agradeceria a ela por isso, duvidei, mas não quis lutar. Vi que era batalha perdida e enquanto eu retornava para casa lembrei-me que há muito não limpava o sótão e podia sentir, só de pensar, o gosto da poeira em minha boca, do frio e da escuridão daquele lugar. Olhei duas ou três vezes para aquela caixa e sorri com lágrimas: havia encontrado o teu lugar.
E sabe, doçura, quando eu abri aquela caixa e vi todos os nossos pertences e tudo aquilo que conquistamos nos últimos tempos que nos pertencemos pensei que tudo havia sido em vão. Porque você quis assim. E então os meus olhos secaram tal qual o deserto do Saara, sem pretensão alguma de voltar a chover. Engoli seco o meu orgulho e levantei-me em direção a porta da cozinha. Assim que me aproximei da janela os avistei, vestiam-se de laranja e corriam de um lado a outro da avenida enquanto o caminhão andava lentamente esperando-os. Levantavam sacolas, sacos plásticos azuis e pretos e então corri até eles e ofereci-lhes o nosso pequeno tesouro. Um mundo que vivíamos outrora.
E uma moça simpática e bonita, mesmo debaixo daquele uniforme, disse-me que não levaria. E eu tentei convencê-la, mas ela mostrou-se relutante. E eu cedi. Dissera-me que um dia agradeceria a ela por isso, duvidei, mas não quis lutar. Vi que era batalha perdida e enquanto eu retornava para casa lembrei-me que há muito não limpava o sótão e podia sentir, só de pensar, o gosto da poeira em minha boca, do frio e da escuridão daquele lugar. Olhei duas ou três vezes para aquela caixa e sorri com lágrimas: havia encontrado o teu lugar.
Leituras completas como esta são um pouco escassas no ambiente blogueiro.
ResponderExcluirVocê faz jus às palavras e põe sentimento na ponta da caneta.
Por isso é tão gostoso te ler.
Beijos.
Arrasou!!!
ResponderExcluirAdorei!!!
As vezes é melhor nos livrar das coisas que não trazem boas lembranças mesmo.
bjocas
Jogar fora aquilo que fez parte de nossas vidas é difícil. A moça que não quis aceitar tem razão, não se deve jogar fora memórias, lembranças, porque quando a dor cessa o que fica sempre é doce. Já tive vários amores e hoje tenho uma pilha de caixas no sotão, de vez em quando vou lá e dou uma olhadinha. É bom relembrar.
ResponderExcluirBeijo grande Mel.
Finalmene acabou meu bem, corra atrás agora do eu futuro brilhante.
ResponderExcluirEstou com você pra tudo!
adorei esse texto e acho que fui uma das primeiras a lê-lo, rs
bjs amor.
adoro você!
Como não tenho sótão, vou guardar a minha na despensa! Mas bem que eu tentei jogar fora também!
ResponderExcluirNossa menina... você é talentosa! Gostei muito do seu texto, parabéns!
ResponderExcluirVou tornar-me visitadora, e tb te espero no meu blog sempre! bjos
Me parece que não devemos nos livrar das nossas lembranças, devemos guarda-las, mesmo que seja em um porão
ResponderExcluirFeliz 2010 *-* obrigada por ter compartilhado seus textos comigo e fico feliz em ter dividido meus textos contigo
Beeijos
Sou tão feliz por ter conhecido vc, seu blog... =)
ResponderExcluirVenha para o RJ =)
(vergonha)
Enfim, ao meu ver, não devemos nunca nos desfazer ads lembranças, sejam estas positivas ou ñ, elas fazem parte do passado, podemos ir até a CAIXA DA LEMBRANÇA de vez em quando e buscar tudo aquilo que nos for necessário!
Incontáveis abraços do seu "namorado" ;)
Olá, Pâmela.
ResponderExcluirVc escreve de forma delicada e bonita, parabéns!
Gostei muita da sua visita lá no meu Teatro, obrigada!
Um ótimo 2010 para vc!
Beijos.
Oi Pamela, obrigado pela sua visita em meu blog. Espero que volte lá denovo..adorei e pretendo te seguir.
ResponderExcluirBom, sobre seu relato, eu passei por algo semelhante a um mês atrás..juntei tudo num baúzinho médio..Cartas, fotos, bichos de pelúcias, pulseiras, cordões..Cds..ingressos de cinema, corações de papel..entre outras coisas..tudooo. Mas não pensei em jogar fora. Só juntei coisas que estavam espalhadas pelo meu quarto, pela minha vida e guardei muito bem guardado.
Não adianta jogar fora algo que está exposto no coração, pensei assim.
E vc acredita que estou sobrevivendo...eu pensei que havia morrido, mas não..sobrevivo.Mas Viver denovo, só Deus sabe quando.
Bjos e um 2010 cheio de paz pra você.
Pra mim, o que for lembrança há de permanecer na mente, com sabor agridoce. Desfaço-me de tudo; pois é com o tempo e a ausência, que sentimentos e pessoas passam a ser vultos em nossa vida (se o quiseres assim)...
ResponderExcluirBeijos
Feliz Ano Novo!
;*
muito doce teu texto, mas eu ri com a crueldade do 'tua letra pavorosa' hihihi.
ResponderExcluirbj :*
A gente passa o tempo todo fazendo um relicário do nosso amor... enquanto ele existe alí, é lindo guardar cada coisinha. Quanda acaba, vira tortura rever.
ResponderExcluirÉ difícil se desfazer desses detalhes... porém, necessário. Às vezes demora. Que bom é quando conseguimos.
Beijão, Pâm!
Feliz ano novo pra tu e toda a tua família. ^^
Hahaha.
ResponderExcluirSou má mesmo Gabiz =D
Bem, você tem uma caixa de lembranças, eu tenho um caderno com anexos tão absurdos que você levaria um susto; vão desde um ingresso de cinema a um pacote de batatas-fritas do Mc'Donalds, rs.
ResponderExcluirCharlie B.