Meses atrás, ouvi tanto que um dia ia parar de doer. E toda vez que alguém dizia isso, eu sentia náusea. A ansiedade gritava dentro de mim. Eu não queria esquecer nem que passasse; eu só queria de volta aquilo que julgava ser meu, aquilo que me fazia feliz. A gente não consegue raciocinar direito quando está sofrendo. Eu não conseguia. Eu só queria de volta. Não queria que passasse, não queria um novo alguém, queria apenas ele.
E por um bom tempo vivi nessa ânsia, esperando uma mensagem, um sinal de fumaça… e nada. Nada. Nada. Os dias foram passando, as dores diminuindo, e a vida voltando ao eixo. Ainda doía demais pensar no que poderíamos ter sido, mas doía mais ainda lembrar do que éramos: dos dias felizes, das partilhas, dos sorrisos, dos jantares à mesa, de tantos momentos que enchiam meu coração e me diziam que eu poderia ser amada e que eu merecia.
Lembro de dizer às minhas amigas que me sentia como Bella Swan em Lua Nova, rasgando os calendários e sofrendo pela partida de Edward. Aquela cena, a dor era quase palpável. Só quem é millennial e viveu essa época sabe do que estou falando. E os dias correram. Mas, diferente de Edward, ele não voltou. E, ainda assim, os dias passaram a ser menos dolorosos. Aos poucos, passei a acordar sem tê-lo como primeiro pensamento. Os fins de semana voltaram a ter vida, e sentar à mesa já não me doía mais.
O tempo tem esse poder de ser remédio: cuidar de nós e reconstruir aquilo que foi demolido dentro de nós. Doeu muito, mais do que eu esperava e mais do que eu merecia. E aos poucos consegui enxergá-lo como ele realmente foi. Doeu tanto, sabe? E não, eu não merecia um desfecho tão ruim, um tratamento tão descartável. Mas, distante de todo o sentimento, consegui vê-lo de verdade. Não consigo mais procurar desculpas para humanizá-lo em cima da minha dor e, aliás, nem preciso.
Aos poucos, ele foi se tornando menos frequente nas minhas conversas. Como foi bom ter amigas que me deixaram esvaziar essa dor, que me ouviram e me abraçaram. Tantas vezes, aos prantos, eu dizia: “Amiga, obrigada por me ouvir. Isso dói tanto, tanto, que parece que meu coração está partindo ao meio”. E elas me ouviam. E me abraçavam. E enxugavam minhas lágrimas, uma, duas, três mil vezes. Ter esse apoio foi tão importante e necessário para que eu pudesse me curar. Aqui, eu afirmo: mulheres curam mulheres.
Esses dias, tive a certeza disso quando me deparei com ele no trânsito. Olhei e não senti. Não quis. Não amei. Era tudo o que eu precisava para entender que as cicatrizes, por mais profundas que sejam, um dia se fecham e deixam de doer.
A gente sempre acha que não vai aguentar, né? Até que a vida nos mostra, mesmo que leve um tempo, um ano, dois anos, que tudo passa. Até aquilo que achávamos que jamais passaria.
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