quarta-feira, janeiro 13, 2010

O contrário do amor não é ódio, é a indiferença.

"O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola (...) o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença."

Eu só queria mais um copo desse wisky de quinta ou um pouco daquele conhaque barato que costumo comprar no supermercado todas as quintas. Para poder aliviar o peso que se encontra em meus ombros, livrar-me dessa tensão toda. Esse é o terceiro maço de cigarros que fumo hoje e quer saber de uma coisa? Não me importa que meu pulmão grite por ar, que ele fique congestionado ou que meus dentes fiquem amarelados. Porque já não preciso de boa aparência e muito menos aprontar-me para recebê-la depois de um longo dia de trabalho. Porque ela se foi. E nada mais me importa sequer as recordações que ficaram intrínsecas a mim e que insistem em assombrar-me todas as noites, os doces beijos dela, as muitas loucuras que aprontávamos e o amor feito em pleno meio-dia com o sol a pino, deixando os corpos incrivelmente incendiados. Porque ela simplesmente veio enquanto eu estava fora e esvaziou todo a cômoda e os dois lados do guarda-roupa que ocupara com suas infinitas calças jeans. Esvaziou meu apartamento da alegria, do sol e sequer deixou um bilhete dizendo aonde iria.

O telefone dela que não atendia mais, o endereço que estava vazio e o porteiro que não sabia de seu paradeiro enlouqueceram-me. Clarisse sempre tão inconstante deixou-me a ver navios e não quis despedir. Talvez soubesse que eu imploraria para que ela ficasse que me colocaria a seus pés fazendo várias juras de amor – o que não me era difícil – ela, deixou-me aqui com um meio coração. Sem batimentos cardíacos e pulsação fraca. Ela simplesmente levou-me a vida. E enquanto eu ouço Lady in red do Chris De Burgh no Juke Box desse bar de motoqueiro, as lágrimas me vem impiedosamente. E eu morro por dentro. Pensando que ela simplesmente quis ir embora por ter achado que o amor havia caído na rotina. Se ao menos eu soubesse o que aconteceu, porque ela não me responde aos emails.

Uma, doze, vinte e cinco doses de tequila e eis que meus olhos vêem. Talvez uma miragem ou apenas o desejo de que seja ela. Calça jeans apertada, tomara-que-caia preta e muito lápis nos olhos. E os meus entreabertos conseguem enxergar o seu rosto, sim, Clarisse, em carne, osso e mãos envolvendo sua cintura. Ele, aparentemente, quarenta anos mais velho coberto de correntes de ouro e uma bota ridícula de cowboy baba-lhe a bochecha. Enquanto isso, Clarisse olha-me com os olhos desesperados. Ri ridiculamente, com gargalhadas espalhafatosas e com um súbito momento de raiva levantei-me aplaudindo-a.

- Bravo, bravo, Clarisse. Se era dinheiro que você queria devia ter dito antes e eu mesmo teria me afastado de você. Ambiciosa. Alegro-me de não ter esperado mais.

E os lábios dela tremiam. Seus olhos encheram-se e logo transbordaram. Tola. E aproximando-se de mim, Clarisse apertou-me o braço arrastando-me ao único toalete que havia naquele local dizendo que era necessário tudo aquilo, que precisava de grana para bancar os estudos, e outras desculpas que só me fizeram cuspir-lhe a cara. Ela não tinha mais a doçura que me encantava, tinha sim os mais bonitos lábios que eu já vira, mas em nada me comoveu. Suas palavras não me atingiam, suas tentativas de beijar-me eram evitadas e o eu te amo dito por ela apenas me deu náuseas. Ela era apenas o rascunho daquilo que eu havia amado. Era apenas uma cópia bem mal feita, algo que eu queria definitivamente apagar da memória. E a deixei lá, naquele seboso banheiro com palavrões escritos em toda a parede, mas antes de sair mostrei uma palavra escrita na porta, perto da maçaneta em letras garrafais: "Puta". Era isso o que ela era.
Postagem coletiva. Participe!

24 comentários:

  1. Sim!
    Indiferença que me dilacera.
    Você consegue ver além. E isso se reflete nas palavras.
    Não seria capaz de abordar um tema como este com tanta habilidade, mesmo me fazendo mal.

    Te admiro, doce.

    Juro que me vi no momento em que o personagem levantou-se e bateu palmas para a nossa doce "puta". s

    Beijos, Mel.

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  2. Vou deixar outro comentário daqueles que tu odeia: você escreve bem demais, Pâm. Não vou escrever no desafio porque eu jamais saberia escrever tão bem como tu.


    Lindo blog! Passa no meu!
    beijos, to te seguindo. :P

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  3. Óia.
    Morri com teu comentário MaFê. A gente com essa nossa piadinha interna, rs.

    Pode deixar que eu te sigo, hehe!
    Vai ficar um vazio sem teu post, incompleto.

    Amo-te doce catarina.

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  4. Acho que fui uma das primeiras a ler esse post, e me senti tão honrada! rs

    não sei pq mais lembrei de mim quando o li! rs
    e você de quem lembrou? NÃO RESPONDA! haha


    te amo ♥

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  5. Oiii
    concordo plenamente com a citação que você colocou... o contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença...
    gostei demais do post..
    bjus

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  6. E todos os dias milhares de Clarisses se vendem, deixando o amor verdadeiro passar pela vida delas e não mais voltar. Isso só prova que não se deve apostar todas as fichas em um amor, ele bebia para esquecê-la, enquanto ela, provavelmente, gastava dinheiro e botiques bem caras.

    Abraço.

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  7. Sei lá porque mas me apaixonei pelo nome Clarisse, assim na primeira vez que li em seu post. Estranho.
    Texto demais.

    Parabéns!!

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  8. Existem tantas Clarisses por ai, e é uma pena.
    Uma pena que dinheiro no bolso seja mais importante que amor no coração.
    Mas claro, existem pessoas que preferem o amor no coração (: e acho que é por isso que o mundo ainda esta 'inteiro'

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  9. ela sempre este lá, sob a maquiagem dos olhos, você que não queria enxergar!

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  10. Uau. Achei forte, intenso. Primeiro a indiferença sem explicação dela o feriu, mas a explicação que se seguiu provocou a indiferença dele, que foi implacável.

    Você arrasou Pam. Muito bom mesmo, como tudo que você escreve.

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  11. A indiferença é foda....ela ñ tem cor, nem sentido...só vai nos correndo cada vez mais.


    ___________


    Se já encontrei a tal moça e ela está à quilômetros de mim, oq fazer pra esta estar perto de mim? oq fazer para ter esta pra mim e fazê-la feliz?

    Incontáveis abraços.

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  12. O som do silêncio é o que mais machuca.
    Machuca e nem sabemos o motivo... pois não há respostas... nunca.

    Intensa a resposta dele... Mas como sempre.

    Perfeito!

    Beijo doce!

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  13. Que pena que ela não aprendeu o significado de amar.
    Beijos...

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  14. Não gosta de elogios? Nem ligo!!!

    Cada vez me encanto mais com esse universo do blog, há pessoas que apenas escrevem (meu caso), mas há pessoas que trancedem a escrita e emergem no sentimento, mesmo quando criam aquilo que escrevem... Pois as letras aqui empregadas que formam palavras e que juntas dão origem ao texto nos transportam para uma outra dimensão onde o real e o irreal não importam, importa apenas o sentir.

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  15. E a fantasia se despedaçou... Agora resta aceitar a realidade.

    (você escreve maravilhosamente bem.)

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  16. Adorei.. vc escreve realmente bem. *---*

    As vezes as pessoas que amamos nos supreendem, mas nós devemos continuar vivendo...

    Beijoos'
    E estou te seguindo!!

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  17. Puta, foi o ela sempre foi..

    Sinti falta de suas palavras, Mel.. adoro seus textos, seu voce que nem sou diga de descrever.

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  18. Puta, foi o ela sempre foi..

    Sinti falta de suas palavras, Mel.. adoro seus textos, seu voce que nem sou diga de descrever.

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  19. E todos os dias somos rascunhos de alguém. Malditas expectativas!

    Ótimo tema, vou ler os outros textos. ;x

    Beijos
    ;*

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  20. Que texto mais profundo! Que palavras mais bem traçadas! É tão triste saber que um amor pode acabar assim... Mas infelizmente, é o que anda acontecendo por ai...

    Beijos!

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  21. Adoro este clima relaxante que você coloca no início dos seus texto. E que texto! Adorei a forma como abordou o assunto. A doçura nem sempre anda com a beleza. Beijos Pam, Mel, Doce.

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  22. Ele amava ela, e em apenas um olhar ele se viu totalmente indiferente. Como o amor pode acabar num piscar de olhos não é? Mas é, isso mesmo. Eu sempre soube, o ódio não é o contrário de amor, pois sem amor não existe o ódio.
    Você escreve divinamente Mel, *-*

    Beijos!

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