Por muito tempo fui uma consequência, fui aquilo que a vida fez de mim: um pássaro na gaiola. Muitas vezes as pessoas foram minha gaiola. E eu? Eu só queria ser uma garota como todas as outras. Eu repeti durante anos que queria ser “normal”. O mundo caótico vomitava nos meus olhos todos os dias, mesmo assim preferia fingir que estava tudo bem e continuar com minha vontade de ser só mais uma garota.
O meu caráter fiz sozinha. Sozinha, assim me
sentia. Errei, cai inúmeras vezes, tentei mil vezes até estar onde estou hoje.
Consegui sobreviver, outros no meu lugar arrancam o pescoço. E na verdade acho
que ainda não tenho muita noção de tudo. Busquei
em outros abraços a contenção que me faltava, o resultado foi um coração
partido.
Quis ser rebelde, porque esse era meu adjetivo
quando me entender era mais difícil. A falta de atenção que grita, ninguém
escuta, mas vários julgam. Queria ser “normal” e queria paz. Paz era algo que
parecia impossível. E a minha ideia errada de que amar exige sacrifícios, que
estava tudo bem me deixar para depois. Me
convenci de que ficar quietinha era melhor, porque assim era aceita.
Quis ser rebelde e independente, então fui morar
sozinha. Minha necessidade de me libertar. E saí todas as noites, conheci
pessoas, joguei corridas de carro, festas. Era tudo tão inseguro, e o que eu
precisava mesmo era de um porto seguro. Tantas contradições. Trabalhei, saí do
emprego, voltei e saí de novo. Mil falhas, milhões de julgamentos. Queria mesmo que alguém acreditasse em
mim. Se alguém tivesse acreditado, minha vida teria sido completamente
diferente.
Os adultos fazem suas escolhas e quem paga por
elas são as crianças. Eu paguei, até os juros. Anos passaram e mesmo assim
todos querem tampar a caixa, porque abrir machuca. E foi depois de extrapolar,
de bater a cabeça, fazer meus próprios conceitos. Depois de muito caminho
andado. Depois de tudo, finalmente senti que sou uma boa construção.
Parei de esperar retorno, eu vou por minha conta
mesmo. Parei de fantasiar com aqueles amores de filme, não sou amarga, mas esse
não é mais meu ideal de felicidade. Não acredito mais em meias verdades, mas
enxergo as atitudes bonitas. Não deixo minhas vontades para depois, não busco
ser aceita. Hoje me encontro muito mais
mulher do que menina. Dona de mim mesma, segura no meu agir, em harmonia com
tudo aquilo que sinto.
Sei onde quero chegar e vou chegar. Sou tudo o que
por tanto tempo procurei em outra pessoa. Determinação, adoro essa palavra.
Quando cheguei na minha psicóloga, lembro que
disse algo assim: “meu corpo não é um
lugar confortável agora”. Me sentia alma que queria escapar, sentia que algo
me sufocava. Nas últimas sessões tenho repetido que gosto de estar comigo
mesma. Me aceito. Me reconheço. Sabe o amor-próprio? Pois é. Agora acho lindas
minhas tantas definições, meu gosto pela arte, meus escritos, meu jeitinho. Em 2017 começou uma vida muito mais vida.
E eu agradeço.
Nossa, tão intenso e tão bonito ❤ Parabéns 👏👏👏
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