Estive pensando outro dia em como adoram padronizar e estigmatizar as coisas, incluindo pessoas. É um tal de pode e não pode, deve e não deve, que a gente fica mais perdido que cego em tiroteio. Tudo tem sempre que se encaixar nesse quebra-cabeça social perante tantos olhos julgadores.
Se o modo como você vive sua vida não estiver condizendo com seu perfil, sua profissão, sua classe na sociedade ou seu nome, te julgam por ser diferente, estranho ou, claro, louco. E aí eu me pergunto, de onde surgiu tanta responsabilidade? Vocês já pararam para pensar no tamanho da nossa complexidade?
Eu fico boquiaberta quando paro pra ler histórias e biografias de tanta gente incrível que era conhecida apenas por suas profissões. E ao ler sobre essas pessoas você descobre que elas eram muito além de toda essa popularidade singular. Sabe aquela apresentadora do jornal? Tão séria, muitas vezes parecendo robotizada e com suas falas programadas e densas. Ela é uma excelente bailarina, não podia ser mais autêntica e livre em seus passos quando dança; tão leve como uma pluma sendo flutuada pela gravidade.
Não dá para rotular pessoas. Somos imprevisíveis. Nós temos um arco-íris de desejos e anseios dentro de nós, um redemoinho de vontades, uma curiosidade que transcende nosso ser. Se a gente se limitar e não viver tudo aquilo que a gente deseja e sonha, a gente perde o sentido da vida.
Viver não é escolher uma profissão. Não é ter que mudar sua personalidade para viver naquele padrão imposto pela sociedade. Não é enfiar uma máscara de médico, advogado, engenheiro, juiz, e ter que ser sepultado no fim da vida esperando ser aclamado e conhecido apenas por ser um profissional excelente (ótimo se for). Eu quero mesmo é ser reconhecido por ser um bom ser humano; fascinante, surpreendente. É desse tipo de gente que quero encher minha vida.
Nós somos uma explosão de querer, somos feitos de vontades, e são elas que nos mantêm com esse brilho nos olhos que ilumina qualquer ambiente sem luz. Nós somos luz, energia; somos feito pra ter todos os tipos de cores nessa vida, pra vestir por aí qualquer roupa e sentimento que bata no nosso peito. Podemos encher o rosto de glíter mesmo quando não for carnaval, e dançar com a roupa rasgada enquanto lava o quintal.
Ninguém tem o direito de nos dizer qual ritmo devemos dançar, qual cor devemos usar, e qual postura devemos assumir só por causa de uma escolha profissional. Por trás daquele terno, daquele jaleco, daquele uniforme, há uma mente borbulhando de sonhos e ideias, uma alma avoada almejando a próxima viagem e imaginando qual a próxima parada; há sempre um coração apaixonado dançando de felicidade ou, às vezes, chorando de saudade.
Eu não quero apenas viver pra ser reconhecida por algo tão singular, não tem cabimento apenas uma escolha profissional que fiz me definir durante toda a vida; não, eu quero ser, eu sou, muito além do que um trabalho.
Eu sou plural em cada pedaço, sou a música que arrepia o corpo inteiro e faz mexer os pés sozinhos. Sou o livro cheio de escritas tão detalhadas e descritivas, sou a poesia que nasce do fundo da alma, escorre pelo corpo todo até chegar nos dedos e se esparramar por uma página.
E se você ainda quiser me rotular, boa sorte ao tentar; só não sei se existem rótulos suficientes que caibam tanto viver, querer e sonhar.
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