segunda-feira, junho 19, 2017

Pensando bem.



Leia ao som de Pensando Bem, 5 à seco.

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Quem dirá será a vida. Eu não quero fazer dos meus dias passados um relicário. Quero é olhar para eles com gratidão, acenar e dar adeus. O problema é que toda vez que eu tento virar a página algo me remete a você. Ontem eu passei o dia com enxaqueca e não tinha você para reclamar das minhas dores. Elas pareciam menores quando você me dizia para tomar remédio. E a impressão de ser cuidada parecia amenizar o que eu sentia. 

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Meu coração é que irá dizer. Há dias que são mais fáceis que outros, mas nem por isso são menos dolorosos. Sábado eu ouvi a gente em uma música do 5 à seco. E eu percebi o quão fácil é sonhar a vida de olhos fechados. E percebi também que assim, como você, eu sempre tenho uma música para os meus momentos. Percebi, também, que Tiago Iorc já não é tão querido. Aliás, ele esteve aqui esses dias e eu nem fiz questão de ir assisti-lo. Eu não sei você, mas me dói um bocado ele cantando a "nossa trilha".

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Ou não. Quem irá dizer? Eu sei que a vida parece um pouco mais lenta e os dias mais compridos. O primeiro e último pensamento do dia continuam iguais a única diferença é que ele carrega consigo uma interrogação. A gente não sabe um do outro. E eu já não vou atrás de meus informantes (risos). Ando tão contida que desconfio de mim. Sei que os teus dias estão correndo, assim como os meus, mas já não busco saber. Só quero que viva e viva bem. Viva feliz.

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. As outras estão lá naquele velho endereço. Blog desativado. Ativado para você — Acho que você nem percebeu que sim Cheio de memórias e recordações que ficarão lá longe dos olhos alheios. Visíveis somente aos seus. Cartas cheias de súplicas e de memórias bonitas. Linhas que teciam seu amor por mim. Você me ama, eu sempre dizia.

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Talvez eu não escreva nunca mais. Há dias que não sinto vontade de redigir uma linha sequer. Tudo que penso em escrever tem um pouco de você. Não dá para falar sobre fé, coragem ou amor sem fechar os olhos e ver teus olhos miúdos sorrindo para mim. Não dá para escrever sobre o amanhã sem ouvir um beijo estalado no fone de ouvido. Não dá para escrever sobre a vida e imaginar que as nossas não mais se encontrarão.

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Ou talvez eu acorde amanhã querendo dizer a você as coisas que ainda não disse. Talvez eu diga a você que não tenho comido direito e que quase não mexo mais no meu celular. Talvez eu lhe pergunte se você anda feliz. Ou talvez eu já tenha a resposta. Talvez eu lhe diga, como sempre disse, que você me ama. Ou talvez eu apenas silencie diante disso. Talvez eu lhe diga que sinto falta dos "bom dias" e "boa noites" que nos uniram. Ou talvez eu apenas continue quieta.

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Ou talvez seja apenas uma das milhares que virão. Nem eu consigo me desvendar. Os dias não são tão mais previsíveis. Tudo parece mudar de lugar. Tenho recebido ligações, convites e solicitações de amizade. Um mundaréu de gente parece querer roubar o teu lugar. Nunca imaginei que um dia haveria a possibilidade de você deixar de ser nós. A gente vira plural e fica perdido quando volta a ser singular. 

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Talvez.


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