Há
palavras que precisam ser guardadas na memória, colocadas em uma caixinha,
deixando-as intocadas no coração. Não porque elas não mereçam ser lembradas,
mas para que não passem de bonitas à dolorosas. Para que elas não doam em nós.
Para que elas exerçam o papel delas à época: “nos fazer felizes e amados”.
Não há porque condenar e tentar esmiuçar cada frase e palavra dita. Não há
porque olhar cada vírgula na tentativa de dizer se o que fora dito era real ou
não. A gente sabe quando alguém é sincero.
Nós
sabemos quando somos amados. Mas também sabemos o quanto as pessoas se perdem
em meio aos sentimentos e desejos. Às vezes deixamos uma vida de lado para
saciar uma vontade e um capricho do momento. Abrimos mão de uma felicidade duradoura
por uma sensação momentânea. Fechamos os olhos para o que sentimos naquele
momento e não nos damos conta do quão perigosa é aquela nossa aventura.
Arriscamos perder. E, arduamente perdemos.
–
“Eu soube que era você quando vi a minha
felicidade no seu sorriso”.
Não
há que se questionar das verdades ditas. Apesar da cabeça embaralhar e o
coração se recusar acreditar. Você fecha os olhos e vê a pessoa nitidamente
olhando para você. Com os fixos. Com o sorriso nos lábios. Repetindo inúmeras vezes o quanto te ama e o quanto deseja ter filhos
contigo. Você se transporta para cenas vividas, se recorda dos risos e
gargalhadas. Da forma que a pessoa tinha você dentro dos olhos, dos suspiros e
das músicas que ele lhe cantava todas as noites. A sua cabeça vira uma radiola e as canções já não são cantadas
por seus interpretes. É a voz dele que ressoa, que ecoa em sua mente. É a voz dele
que, apesar de não cantar, te cantava todas as noites. Que te cantava sobre
felicidade, sobre casamento, sobre “como era bom te ver”.
Olhando
para nós. Para mim. Para você. Eu me recuso a acreditar que não tenha havido
verdade nas palavras. Que o nosso sentimento tenha sido fictício ou que eu
tenha me apaixonado por um personagem. Poucas são as pessoas que têm a graça de
encontrar alguém que as completem, que sejam incríveis umas com as outras e que
adivinhem cada pensamento. Poucas são as pessoas que te alertam seus horários
de remédios, que insistem para você comer ou que te adulem a se cuidar. E assim
ele fazia. Amava como amava uma filha. Amava como amava alguém que era
importante e que queria para sempre na vida.
Falar sobre sentimentos que desatinam é
inexorável. E, apesar disso a gente
fala. Falamos para que os ouvidos ouçam e a mente se convença de que nada foi
em vão. A gente fala na esperança de acordar e saber que é apenas um pesadelo.
Esperando que o amor venha até nós e nos convença que estávamos errados e que há
apenas uma falha na comunicação, que houve apenas um mal entendido. Que o amor
existe, existiu e existirá. A gente
tenta se convencer que as palavras não eram apenas bonitas, mas eram reais.
Eu
mergulho em meu interior, fecho os olhos e penso: “que sorte a nossa termos nos
encontrado e termos crescido tanto”. O crescimento que há em nós são os frutos
dos dias que vivemos. Há história. Porque histórias não se resumem à carne, ao
tato, ao sexo. Amor é muito mais que isso. Amor é compreensão, é reciprocidade,
é amizade, é levantar o outro na queda, é torcer pela felicidade do outro, é
cuidado diário. Eu me recolho em mim e penso que – apesar dos pesares – houve amor.
Pelo menos da parte pela qual eu posso afirmar: de mim. Dedicação é amor. Ouvir é amor. Abraçar a dor do outro é amor. Enxugar
as lágrimas do outro é amor.
E,
embora estejam esperando de mim um texto choroso sobre o amor. Um texto que
pragueje e maldiga o que vivi. Eu só posso escrever sobre gratidão. Porque eu
repito – poucas pessoas na vida têm o privilégio de conhecer o amor. De vivê-lo.
E eu vivi. E desse amor aprendi a me amar mais, a me querer mais, a me desejar
mais. Desse amor eu aprendi o quanto eu era bonita, o quanto os meus olhos também
são, o quanto minha sobrancelha também é. O quanto eu mereço a felicidade.
Não
há o que se entristecer diante disso. Não há o que se enraivecer diante de
tudo. O amor tudo perdoa, tudo crê e tudo espera. E, o seu perdoar não
significa esquecer ou desejar viver novamente ao lado do outro. Não significa
apagar da memória ou ter amnésia. Significa olhar para o outro com olhar de
misericórdia e entender que a humanidade dele o venceu; é olhar para o outro e
dizer: “eu entendo você, porque eu também
erro”. É abraçar o outro e reconhecer que todo mundo tem a capacidade de
magoar alguém. É pegar a pedra de
condenação e atirá-la no chão, porque o amor sempre é o vencedor.
O amor
tem o poder não somente de transformar pessoas, mas de modificar situações. Às vezes
uma pedra de tropeço vem para nos fazer refletir sobre quem somos e/ou quem
estamos sendo um para os outros. Toda queda traz lição. Toda cicatriz nos
lembra dessa queda. Quem sabe esta minha queda me ensine a ser alguém melhor.
Quem sabe a queda dele o ensine a amar com mais cuidado. Quem sabe essa situação
não esteja aí para o nosso crescimento como ser humano.
Hoje
eu olho, criticamente, para o que eu trago no peito e digo que valeu a pena.
Cada risada, cada lágrima, cada bom dia e boa noite. Hoje eu olho para o
sentimento que – apesar de anestesiado – se mantém bonito e intacto. Porque aprendi
nestes dez meses o amor que Coríntios dizia. Porque aprendi a reconhecer a
nossa fragilidade e olhar carinhosamente, compreensivamente, para os erros do
outro. Uma mãe ama verdadeiramente um filho, o repreende, mas nunca deixa de
amar. Assim, é o amor verdadeiro. E, entendendo essa máxima eu afirmo: o amor
tudo perdoa. E, se não perdoar não é amor.
Parabéns, perfeito!
ResponderExcluirÉ uma forma muito generosa de se referir ao amor. Lindo texto!
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