terça-feira, janeiro 23, 2018

Como eu amava te desconhecer


Abri mão de tanta coisa para ficar ao teu lado. Fechei os ouvidos às críticas e conselhos dos meus amigos. Abri mão de estar em lugares para estar contigo, porque acreditava que você estava ali comigo. No final das contas a gente só percebe que alguns esforços são desnecessários quando a vida te esfrega na cara o quão trouxa você era. Lembro que um dia você disse: “eu não sou tão bom quanto você imagina”. Não dei muita bola para o que li, porque não queria perguntar o motivo daquela frase. Deixei que ela passasse despercebida.

Você tinha o meu coração de uma maneira tão bonita. Nunca havia amado alguém até encontrar você. Com você fiz os meus maiores planos e por você eu deixaria o que construí. Tudo porque não te conhecia, não é mesmo? Hoje eu percebo que você tinha razão ao dizer que não era tão bom quanto eu imaginava. Eu te pintava tão bonito, tão justo, tão honesto, tão amoroso. Eu te desenhava como a melhor pessoa do mundo. Só que você era somente a projeção daquilo que eu sonhava. Você era um amor idealizado por mim.

Amava a sua forma de me contar sobre a vida, de cuidar dos meus passos e de mim. Amava toda a importância que eu achava que tinha. Assim como todas as outras deviam amar também. Olho para você e não consigo entender o porquê de tudo isso.  De você dizer que me amava e ter mais quatro pessoas em sua vida. Como você conseguia administrar tudo isso? Como você conseguia se mostrar presente a todas nós? Quanto sangue frio.

Olho para você e não consigo reconhecer quem você foi um dia. Tudo parece tão distante e sem sentido. É como se você nunca houvesse existido ou como se apenas tivesse morrido. Sabe quando alguém morre e choramos porque nunca mais o veremos? É assim que sinto. Quantas desconfianças eu guardei para no fim descobrir que tinha razão em nutri-las. Todas as moças que eu desconfiei e todas as saídas com telefone desligado escondiam traições e mentiras. Mil mentiras. Quantos corações mais você destruirá? Você nunca me amou, não é mesmo? Você nunca as amou. Você não ama ninguém a não ser você.

Como eu amava te desconhecer.
E sem lágrimas nos olhos, apenas com um buraco em meu peito – aquele que tanto te guardou, eu reconheço que não te amo mais. Pois seria uma violência contra meu coração ainda manter qualquer sentimento por você. De todas as coisas boas que você poderia ser em minha vida, de todas as boas lembranças que você poderia me deixar, você escolheu ser nada. Ser apenas um borrão em minha memória. Algo que me faz querer acordar quando, vez ou outra, eu sonho com você.

Um comentário:

  1. Talvez esse segundo personagem ame tanto essa pessoa que a escritora ainda não conseguiu ver em seus versos o quanto ela é importante pra éle.

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