Fiquei apenas
pensando que seu rosto
parece com as
minhas ideias.
[Corpo de lama - Chico Science]
Eu quero me
aninhar no teu peito, baby.
Quero que você me conte bobagenzinhas enquanto escuto tua respiração. Quero
sentir teu coração bater, ouvir tua risada, segurar tua mão por mais tempo, te
entregar mais que dois sorrisos. Mais que um ruído. Eu quero espalhar beijinhos
no teu rosto e passear, confusa, em você.
Quero te ligar no
meio da noite e ficar em silêncio até conseguir dormir outra vez. Quero que
você me abrace. Que você sempre me abrace. Que caminhe ao meu lado segurando no
bolso de trás das minhas calças. Quero saber a frequência com que pisca os
olhos e decorar o que te faz franzir o nariz.
Quero papos
desconexos, propostas decentes e outras tantas avessas. Quero entrar no
primeiro ônibus disponível e passar um dia inteiro num lugar onde sejamos
estranhos. Quero te puxar pelos braços e que você recue para me pirraçar enquanto
vai pintando poesia nos dentes. Quero que teu cruzar de pernas me inspire um
texto e que você faça um carinho bom em minha nuca, me abraçando por trás
enquanto me observa sentada ao computador.
Quero que você
me veja chorando ao cortar cebolas e sempre cante a música de Caetano, só para me ouvir te
chamar de previsível e debocharmos juntos das mesmices que são só nossas. Quero
que não me diga que sou ciumenta e não se importe com minhas melancolias
mensais.
Quero que a
vodka tempere nossas brigas bobas, e que deitemos exaustos no colchão ali, no
chão da sala, enquanto a vida corre do lado de fora da casa. Quero ver você dar
risada da minha cara ao desistir de calcular o troco e que não se importe em ir
ao cinema nos horários mais improváveis.
Quero que você
se arrisque na cozinha só para me ouvir reclamar depois. Quero nossos beijos
cítricos e tua língua tingida com o vermelho do que vai sempre arder em nós.
Quero aquelas noites com a luz fraca, tua arte exata e minha busca imperfeita.
Quero que você
aumente o som quando começar a tocar uma música que eu goste. Quero te
telefonar ao me deparar com algo que se pareça contigo. Quero te ver fechar o jeans, te puxar de volta para a
cama, te fazer vacilar, burlar resistências.
Quero pizza gelada enquanto te mostro meus filmes
preferidos. Quero te fotografar até você arrancar a câmera das minhas mãos e
fazer o mesmo comigo. Quero me rasgar aos pouquinhos para você, só para você.
Quero que folheie um caderno meu e reclame porque não escrevo na linha. Porque
não escrevo.
Quero entender
quando dói e fazer parar de doer. Quero te adivinhar com meus lábios. Quero te
projetar: você-filme. Quero espernear. Quero que você bagunce o quarto e te
olharolharolhar com minhas pálpebras egoístas que te guardam só para mim. Quero
todo esse medo de abri-las para não te deixar escapulir. Quero te achar
ridículo enquanto escuto você cantar ao chuveiro. Quero colo.
Quero que você
entenda minha euforia após o teatro. Que não se espante com minha
sensibilidade. Que não sofra com minha insensibilidade. Que não soframos tanto,
apesar das crises, raivinhas, impaciência e muita falta de sentido.
Quero você na
minha parede verde. Quero pintar nossa parede. Te borrar a roupa. Tomar banho
na chuva, rolar na areia da praia. Quero decifrar tua chegada pela maneira como
toca o interfone. Te cantar músicas bregas, caminhar pela praça.
Não quero nada.
Só preciso inventar uma palavra. Algo que te explique. E olhar para você mais
um pouco, assim, sem querer.
É
uma ideia.
Fotografia: Maud Chalard.
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