Eu te
escrevi uma dúzia de cartas ou mais, uma canção que ainda me falta melodia e um
verso de poesia a tatuar no coração. A vida parecia tão precisa e hoje a vejo
como um caderno de desenho rabiscado por uma criança de 2 anos de idade. Um
borrão que não se entende. Rabiscos que não se encontram o início. Eu deixo você
ir embora sem tantos questionamentos, pois acredito que só devemos ficar onde
nos sentimos à vontade. Você não sente. Meu coração deixou de ser tua casa,
virou um lugar desconhecido e é justo que você queira alçar novos vôos,
desbravar outros caminhos.
Eu abro
a porta da minha casa/coração por acreditar que amores não merecem viver em
gaiolas, mesmo que a vontade de mantê-lo trancafiado seja maior do que o desejo
de dizer adeus. Eu abro a porta e te deixo ir por compreender a tua dor em ter
que me acomodar – sem querer – na tua vida, por perceber o quão sofrível era me
manter em teus dias, por observar que já não havia espaço para mim.
A gente
deixou de ser a algum tempo e, embora eu acreditasse que fosse apenas uma fase
o meu coração sempre respondia que não. As coisas não melhorariam e não
melhoraram. E então eu me vi sozinha no meio do salão, sem meu parceiro de
dança, sem meu companheiro de vida e contador de piadas preferido. Você se
lembra que me estendeu a mão para dançar? Que você me quis por um momento em
sua vida e cogitou a possibilidade de vivermos o eterno? Que não entendia o triângulo
que vivíamos eu, você e Tiago Iorc. Ele nos cantava o dia inteiro na mente.
–
Casamenteiro ele, você me disse.
– Irá
cantar em nosso casamento, cogitamos.
Eu te
deixo ir embora sem tantos questionamentos, porque me basta a dor de não
compreender – humanamente – como alguém deixa de gostar da noite para o dia. Ou
será que a vida apenas tirou de teus olhos a venda de uma possível paixão? E
que na verdade é que sempre fui uma fuga, uma novidade para preencher os teus
dias, e quando me conheceu de verdade viu que eu era tão comum, tão igual, tão
cheia de defeitos e erros que me preferiu apontar à porta da rua.
Essa é
mais uma carta que lhe escrevo e talvez ultrapasse duas dúzias. Um adeus ao que
fomos, um pedido de desculpas pelo seu esforço em continuar a gostar de mim e
embora eu chore pela despedida, prefiro que vá embora e percorra seu caminho até
o fim da estrada...
Porque no final das contas a gente
só deve ficar onde se sente à vontade.
Fotografia: Théo Gosselin.
Ai que dorzinha nesse texto, Pâm. :(
ResponderExcluirUau! Pam, que texto mais dolorido e vivo. Um turbilhão de lembranças e sentimentos me inundaram agora.
ResponderExcluirTua palavra disse o que precisava ser dito e nunca foi.
Te abraço forte.
Recebi pontadas no coração. Flui, dilata, apalpa nossa alma, como se pedisse socorro. E no fundo nós é que sentimos necessidade de ser salvos. Porque sua escrita é para nós, porque somos todos, a gênese de quem ama mas é deixado... E as lembranças? Pontas cruas e cruéis.
ResponderExcluirLindeza de texto. Dolorido, mas lindo.