Post coletivo do #EEC:
Não me venha com desculpas tortas.
– Foi uma miragem.
Eu repetia em minha mente. A minha memória estava congestionada demais, não conseguia concatenar bem as ideias, mas sabia que - no fundo - aquilo que havia presenciado era real. Os meus olhos te seguiam naquela avenida, naquela tarde de verão com sol a pino, e permaneceram fixos até tuas mãos se entrelaçarem às dela, e com os pés imóveis e embasbacada permaneci ali. Inerte. Esboçando uma reação absorta. Morri mil vezes naquele lugar, debaixo daquele sol de 40º C que a Fernanda Abreu tanto canta para enaltecer o Rio de Janeiro.
Derreti.
Vi meu coração se dissolver naquela praça assim como um picolé se desmancha ao cair no chão quente. E, por um instante, eu quis apenas ter demorado um pouco mais a atravessar a rua, talvez se eu tivesse aceitado a sugestão da manicure de pintar as unhas também, ou se eu tivesse comprado - como sempre faço - um sorvete em frente ao ponto de ônibus, ou, quem sabe, tivesse papeado com o seu Zé na banca de revistas. Mas nada disso eu quis fazer e o destino quis me presentear com a sua aparição dolorosa e repentina. E dentro de mim, em minha cabeça tão atordoada, eu me perguntava o porquê de tudo isso. Por que eu não podia fugir daquilo que havia presenciado?
E enquanto eu te espero aqui, sentada nesses degraus gastos, sentindo a brisa beijar o rosto que outrora estivera quente pelo sol, elaboro julgamentos, diálogos irrefutáveis, uma forma de te encurralar e impedir que você venha, como sempre, cheio de falácias e conversas moles. E sob esse céu ainda azul eu me vejo abandonada, sem chão, acompanhada apenas de uma lágrima fugitiva, embora contida, e milhões de questionamentos. Dos mais simples aos mais estapafúrdios.
É, amor! A vida nos presenteia, mas nem sempre o que ela tem nos é de bom grado. Mas, talvez, sem a tua ajuda, sem esse fatídico acontecimento, jamais teria reparado que o amor tem que vir de dentro para fora, que os relacionamentos devem estar embasados, ter seus pilares fixos, na confiança e diálogo. E, sabe, amor, há tempos que já não somos um para o outro. Que a intenção de dividir as vidas, separar os corpos, vem sendo instituída involuntariamente. E, acredito que isso que estamos vivenciando, esse possível fim, já estava escrito com ou sem flagrante.
Suponho que a vida que me levou a descer até à praça hoje à tarde. Creio que sim. E por mais que o sentimento de negação ainda esteja latente dentro do peito, por mais que o meu desejo de que exista explicação grite dentro de mim, eu aceito de boa vontade a sua ida, sem discussões ou conflitos. Não precisa vir até mim com discurso ensaiado, com palavras doces e cheias de amor. Não me venha, meu amor, com desculpas tortas.
Primeiro post do grupo "Escritores na Era do Compartilhamento". Leia também: Thaís Veríssimo, Leca Lichacovski, Ju Umbelino, Maria Fernanda Probst, Valter Junior, Fábio Chap, Célio Sordi, Flávia Oliveira, Sâmia Louise, Joany Talon, Jéssica Delalana, Monalisa Macêdo, Jô Lima; Fernando Suhet, Cristina Souza, Rogério Oliveira, Vitor Ávila, Jeessy, Samantha Silvani, Carol Sassatelli, Alysson Augusto, Maíra Cintra, Cíntia Gomes, Taciana C., Gabi Freitas.
Achei tua história S E N S A C I O N A L. queria ter tido essa ideia hahaha
ResponderExcluirbeijo more
A tua foi incrível, MF. Acho que na verdade a gente sempre se escreve em nossos textos. E eu amo muito tudo isso! <3
ExcluirAmanheci nostálgica e me deparei com esse texto. Confusão (senti)mental na certa. Arrasou pam.
ResponderExcluirAi, Gisa! Melhoras, viu? Amanheci assim também hoje :/
ExcluirQue singelo! <3
ResponderExcluir<3
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