Acordei com uma sensação estranha. Tudo bem, isso não é novidade, acordo cada dia de um jeito e não consigo entender o porquê e de onde, às vezes, vem tanto tipo de sentimento. Mas ao levantar, me olhei no espelho, reparei em alguns defeitos, e lavei o rosto.
Comecei a prestar mais atenção no que eu tava sentindo. Tentava descrever pra mim mesma que tipo de sentimento era esse e não conseguia. Então, continuei meu dia como deveria, sem me preocupar tanto, mas ao longo dele eu sentia cada vez mais aquela sensação estranha que acordou comigo.
Trabalhei o dia todo, fiquei no meio de tanta gente, falei com várias pessoas, tudo conforme o normal; senti mais um dia do meu cotidiano se esvair quando cheguei em casa e joguei minhas pastas sobre a mesa.
Entrei no chuveiro e pensei em tudo que havia acontecido naquele dia, e no anterior, e na semana passada. Percebi que esse sentimento estranho era algo lá de dentro de mim tentando me mostrar que os dias estavam passando, escorrendo, como a água que caía em mim, e muitos deles eu nem sequer lembrava, porque parecia não haver nada de diferente que tivesse acontecido pra que me marcasse o suficiente.
Eu percebi que estava acordando e me deitando todos os dias de maneira robotizada, meus dias eram catalogados, maquinados, cronometrados pelo relógio do tempo que funcionava com os ponteiros da minha rotina. Rotina é essencial pra vida, pelo menos eu acho; a gente necessita de um pouco de organização dentro dessa ampulheta dos dias.
Mas mesmo todo mundo tendo uma certa rotina, algo acontece diante dos nossos olhos todos os dias e a gente não vê. Milhares de sons, músicas tocando, pássaros cantando, o tom da risada de alguém que ri de maneira tão extravagante e sincera, uma criança chorando e se acalmando logo em seguida quando sente o colo macio e seguro de sua mãe.
Tanta coisa acontecendo em nossa volta, e a gente preso em nosso próprio mundo, sem observar, sem apreciar, os detalhes mais singelos que a vida tem nos proporcionado. Pode parecer “pequenice”, coisa boba, mas enquanto a gente fica vidrado em uma tela em nossas mãos, reclamando daquele dia quente e ensolarado, a gente não percebe aquela gostosa e refrescante brisa que do nada aparece, que foi suficiente pra bagunçar levemente seus cabelos e derrubar algumas flores de cerejeira em seus pés, as mesmas que você passou por cima e nem notou.
Os dias têm se passado tão rápido e a gente talvez não esteja apreciando os pormenores mais importantes disso tudo. Acho que a gente não tem se permitido ser feliz. Não estamos nos permitindo usufruir das “pequenices” que nos fazem sentir mais felizes e ter mais esperança nesse mundo que não cansa de ser tão maluco. São momentos, circunstâncias, sorrisos, que por mais que sejam rápidos e durem apenas segundos, vão ser suficiente pra você lembrar quando estiver pensando como viveu esses últimos dias.
Mesmo que estejamos em uma situação ou fase muito difícil, a gente tem que se permitir ser feliz dentro das nossas possibilidades, dentro da nossa realidade, independente qual seja ela, ainda sim, é mais um capítulo que vai nos acompanhar até os agradecimentos finais desse nosso livro.
Espero acordar amanhã, com essa mesma sensação, e muda-la desde o começo, vou lavar meu rosto com água bem gelada, depois olhar pro espelho; e ao invés de já reparar nos meus defeitos, vou começar me lembrando que gosto da cor dos meus olhos castanhos, e lembrar que meu sorriso pode ser uma das “pequinices” felizes que alguém se lembre quando chegar no fim do dia.
Quero sair de casa com minhas pastas na mão e pensar “Só por hoje, vou me permitir ser feliz”. Quem sabe isso também vire parte da minha rotina, e se repita todos os dias.
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