terça-feira, dezembro 06, 2016

Quando chega ao fim

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Eu queria poder estar agora em plena Times Square, participando de um flashmob, ao som de Rise da Katy Perry, eu queria poder estar em uma dessas aldeias africanas ajudando como voluntária em um desses abrigos para refugiados, eu queria poder estar concorrendo à presidência americana, eu queria poder estar do outro lado do pacífico, onde se quer existisse algo que viesse para me lembrar que eu ainda não te esqueci.
Queria que existisse um só único momento que minhas feridas não latejassem tão ensandecidamente . Que me fizesse lembrar o quanto ainda dói olhar para os vestígios que você deixou ao sair da minha vida, a bagunça não é apenas minha, mas quem convive com os restos certamente sou eu. Eu queria poder estar indo trabalhar com a minha roupa passada, um sorriso de canto e que o meu chefe não tivesse que chamar pela milésima vez a minha atenção, mas aqui estou eu, uma garota vestida de aço, mas que tem a alma mais triste que as notas de Beethoven. Uma garota tentando ser gente grande, mas com as urgências de uma criança, que quer apenas sair correndo para casa, deitar em sua cama e chorar até pegar no sono.
Dizem que o vencedor de uma relação fracassada é aquele que sai impune, de mãos limpas e coração vazio, é aquele que desfere o golpe de misericórdia conhecido como o “- Eu não te amo mais.” Quem dera ao menos dessa vez fosse eu a soltar essas palavras, e de fato deixar de sentir qualquer coisa por você. Mas acontece que eu ainda sinto, sinto saudades, sinto falta do seu abraço e do carinho antes de dormir, sinto saudades da sua risada escandalosa, e do seu excesso de organização, sinto saudades da sua implicância com meu cabelo, e até do seu mal humor matinal. Sinto por termos tido um fim quando na verdade eu acreditava que estávamos indo bem, sinto por ter acreditado tanto que existia nos dois, que perdi o meu mundo ao me notar sozinha no final.
Eu queria que existisse uma maneira de se remediar o que aconteceu, mas sinto não ter sido a mim que o destino escolheu. Eu queria poder ser menos dramática, mas eu e você sabemos que esse papel me cai tão bem, eu não sou mais dona da minha vida desde que você se foi, queria apenas que falar fosse poder, porque você se foi, isso é fato, mas eu? Eu ainda estou sentindo tudo em mim. Todos os beijos que te dei, todas as juras de que seriamos para sempre, a cada data ainda lembro do que fizemos juntos, o último natal, o dia dos namorados, e até aquela praia no Caribe, seria o nosso novo itinerário.
Faz dias que não me olho no espelho, meu cabelo está opaco, e minhas olheiras parecem sacos de dormir. O porteiro do meu prédio diz que não aguenta mais pegar as suas correspondências.
- Joga no lixo seu Antônio.
- Mas dona Ana Paula, pode ser alguma coisa importante.
- Joga no lixo seu Antônio, tenho plena certeza de que não faz mais diferença alguma.
Até o diálogo com o porteiro do meu prédio tem se tornado pesado, para onde quer que eu olho não te encontro. Minha secretária insiste em abrir todas as portas e as janelas de casa.
- Essa casa precisa de um pouco de vida dona Ana Paula.
Escuto o que ela diz, e nem procuro responder, desde que você se foi tem sido apenas uma casa vazia. Eu queria apenas seguir em frente sabe, fingir que você está em outro país, casado com três filhos e quem sabe umas amantes por aí, mas qualquer que seja as minhas expectativas, a realidade vem tão mais cruel e fria, e ao bater em minha porta me traz a dor da dura despedida. A despedida que eu nem pude dar.
Hoje estou na floricultura, estou fazendo um esforço descomunal para escolher as suas preferidas. Já faz mais um ano de sua morte, e me sinto como se ainda fosse tudo hoje. Nós dois, um pedido de casamento na porta do teatro e o meu explosivo sim. Antes mesmo que me desse o anel, em minha frente caiu de joelhos; “-Eu te amo Ana Paula”, foram suas últimas palavras, uma bala perdida acabou com nossa história, e a cada minuto que fecho meus olhos me lembro do exato momento que você foi embora.

Moral: A vida é aquela caixa que vem escrito em vermelho: FRÁGIL. E muitas vezes por acharmos que somos imortais a jogamos de um lado para o outro experimentando todos os sabores que podemos ter, mas ela não vem com um manual de instrução e tão pouco com um aviso prévio de quando teremos que nos mudar. Então o meu conselho é bem simples, viva como se o amanhã não fosse acontecer, ame sem medo, dance sem música, vá dormir depois de ver o sol nascer, e amanheça enquanto a lua ainda for a senhora da noite, seja adulto mesmo sendo criança, e não se esqueça de ser criança quando já for adulto, não perca um jantar em família, vá ao jogo do seu time do coração, se entupa de chocolates sem se importar com as espinhas, viva a sua vida, antes que ela seja apenas para os seus entes queridos mais uma despedida. 


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