Dissertamos sobre o amor com a facilidade de quem abre um miojo e após três minutos o tem
preparado. A vida é um pouco mais complexa. Ela vai além das instruções que vêm
no verso das embalagens, que encontramos nas gôndolas de supermercados. Ela não
vem empacotada esperando apenas a nossa disposição em untar uma forma, despejar
o conteúdo e desenformar o bolo.
Seria maravilhoso, também, se a vida viesse em frascos de remédios com uma bula
indicando a posologia, mas, mais uma vez, ela não vem assim de mão beijada.
Nós descobrimos a vida é no dia a dia, nas quedas diárias que
levamos, no esfolar de joelhos, nas topadas que nossos “mindinhos” do pé dão
nas cômodas de nossas casas. A vida é ardilosa demais, cansativa demais,
dolorosa demais, misteriosa demais. E, ainda assim, é uma das maiores, melhores
e fantásticas aventuras que nós somos presenteados todos os dias. Muita gente
existe, pouca gente realmente vive.
Viver é um grande desafio. Todos os dias somos enviados às
jaulas de leões. Nos tornamos protagonistas de séries policiais, dos filmes de
Crocodilo Dundee, procuramos o amor – buscamos com tanto ardor – como quem
busca o elixir da vida. Todos somos um pouco guerreiros, todos temos um quê de soldado.
E, no final das contas, a busca pelo amor é isso mesmo: um campo de guerra. Você
se vê, diariamente, exposto a vários situações difíceis, mas ao final da
jornada, quando a bandeira branca é estendida, quando vemos o amor se rendendo
a nós, percebemos que correr com o peito
nu em frente aos canhões não é loucura. Porque amar vale até a última gota de
suor e loucura.
Fotografia: Maud Chalard.
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