Meus dias são sempre como uma véspera de partida.
Caio Fernando Abreu
Tenho aprendido a
silenciar as minhas vontades para dar espaço aos planos que Deus tem para mim. É
doloroso ter que pegar pela mão a criança birrenta que há em nós e sentá-la,
quase de castigo, para que ela possa escutar e ser educada. Os dias seguem
opacos e desprovidos de luz. É como se alguém houvesse coberto o sol com uma
malha grossa e preta. Ou, até mesmo, aprisionado dentro de uma solitária
impedindo-o de brilhar até mesmo pelas frestas.
Meu coração está
adormecido e, infelizmente, não consigo diagnosticar se isso é bom ou ruim. Eu nunca
fui dada à ciência do corpo humano, sempre tive vertigem ao pensar em órgãos,
mas queria entender um pouco de medicina para compreender o que há dentro de
mim agora. Ou quem sabe psicologia. Ou quem sabe curandeirismo. Os dias seguem
normais, mas não uma normalidade boa – é algo preocupante. Às vezes me pego
pensando que há calmaria demais, mas, em alguns momentos, eu me vejo como um
prisioneiro de guerra sob tortura. Meus pensamentos me maltratam, vez ou outra,
como uma gota de água que insiste em pingar de uma torneira. É um barulho/silêncio
que ensurdece.
Tenho aprendido a
confiar nos desígnios de Deus, mas assim como Tomé eu tenho vacilado.
Fraquejado demais. A minha mente diz que está tudo certo, que a vida tem que
seguir seu caminho natural, que o percurso e as rédeas são d’Ele, mas – ao mesmo
tempo, ele tem pedido para que eu lute, de alguma forma, e tente agarrar aquilo
que por um minuto acreditei ser meu. Há um embaraço tão grande dentro de mim,
de meus pensamentos, de minhas quase ações. Tão confusa é essa dormência que
existe aqui dentro e tão assustadora – ao mesmo tempo – é esse desejo de sair
gritando as minhas emoções aos quatro ventos.
O coração da gente
tem que entender que a vida é passagem para algumas pessoas e morada para
outras. E saber aceitar esse ir e vir de passos, mesmo que seja doloroso.
Imagem: Théo Gosselin.
Imagem: Théo Gosselin.
Essa aceitação nunca é fácil, né?
ResponderExcluirEspero que reconhecer que é necessário torne o processo menos doloroso.
te amo :*