A
gente nem quer vida de comercial de margarina. A sociedade é que internaliza
isso em nós. Eu nunca, por exemplo, quis uma manhã onde as pessoas sentam à
mesa e tomam seu café sorrindo, lendo jornal e jogando pão para o cachorro. Eu
sempre quis o simples. Eu gosto é dessa agitação que a vida é. Gosto de acordar
e cozinhar ovos, enquanto escovo os dentes e calço meu tênis. Eu gosto é de mandar
mensagem de bom dia ofegante, porque estou mais atrasada que tudo.
A
gente sempre acha que a grama do vizinho é mais verde. Mas ninguém sabe o quão
difícil é para ele mantê-la daquele jeito. Grama esmeralda, um dia eu pensei.
Pesquisei e vi que ela requer tantos cuidados que decidi cimentar o quintal.
Que absurdo você trocar a natureza por concreto. Absurdo maior é plantar e não
cuidar. Absurdo maior é cativar alguém e levar de qualquer jeito, empurrar com
a barriga até onde der. Absurdo maior é querer uma vida de comercial de
margarina e não ter zelo pelo outro. Absurdo maior é ser egoísta, ser parvo,
ser cretino e ser escroto.
Ah.
A
gente nem quer vida de comercial de margarina. Porque ser certinho enjoa,
porque a rotina cansa, porque o marasmo põe em xeque o que sentimos. Por isso
que eu quero uma vida agitada mesmo. Quero acordar e saber que o outro está
ali, porque quer e não porque está cumprindo com o papel que a sociedade diz
que é certo. Quero dar um beijo de despedida com gosto de “te espero mais tarde”
e não de forma automática. A gente tem amado de forma tão mecânica que
esquecemos como é bom colocar o queixo no ombro do outro e mirar o nada
enquanto sentimos o cheiro de lavanda que ele tem. A gente tem amado de forma
tão mecânica que não conseguimos mais ler o outro, não nos atentamos às suas
emoções.
A
gente nem quer vida de comercial de margarina.
A
gente quer é olhar na íris do outro e saber que ele de fato está ali.
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